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Reafirme seu projeto de vida – Reflexão do Evangelho com Dom Nivaldo dos Santos

Reflexão do Evangelho, por Dom Nivaldo dos Santos

Após a morte de Jesus na cruz e mesmo depois de terem ouvido relatos de que o sepulcro estava vazio e que Jesus havia ressuscitado, dois discípulos dele abandonam Jerusalém e dirigem-se para um lugar chamado Emaús.  Enquanto no rosto deles é nítida a tristeza, o coração de ambos expressa a decepção com a morte de Jesus:

“Nós esperávamos que ele fosse libertar Israel, mas apesar de tudo isso já faz três dias que todas essas coisas aconteceram (Lc 24, 21).

Nós esperávamos, mas quantas esperanças nossas foram frustradas pelo próprio Deus, pela vida, pelas pessoas ou por determinados acontecimentos? Quantos de nós já estivemos ou estamos neste momento decepcionados, desiludidos, desesperançados seja com Deus, seja com as pessoas, seja com nossa vida afetiva ou profissional, seja com nós mesmos?

Enquanto há esperança nós suportamos as dificuldades e contrariedades, mas quando nossa esperança se transforma em desencanto, em decepção, a atitude mais comum é o abandono do projeto de vida que havíamos abraçado, nos esquecendo de que é diante do sofrimento que nós reafirmamos o nosso projeto de vida.

Projeto de vida é sinônimo de vocação e vocação é a consciência de que somos uma missão. Nossa existência é fruto de um chamado a abraçar uma tarefa em favor do bem de alguém ou de uma causa que depende de nós para ser defendida ou concretizada.

Projeto significa ter uma razão para continuar caminhando para frente: ter razões internas para não parar de caminhar, para não abandonar o caminho iniciado por estarmos enfrentando situações muito difíceis, que estão corroendo a nossa esperança. Quem sabe da importância do projeto de vida que abraçou não o abandona por causa do sofrimento, mas entende que o sofrimento é a oportunidade para reafirmar o seu projeto, a sua vocação, a fidelidade a si mesmo, a sua consciência a Deus, que o chamou a abraçar tal projeto.

A atitude mais comum hoje na maioria das pessoas é o abandono, a desistência, o deixar Jerusalém e ir embora para Emaús, mas é justamente nesse caminho que o Cristo ressuscitado se coloca junto a nós para questionar a facilidade com que nós trocamos a esperança pelo desencanto, pela decepção, pela desesperança.

Diante da nossa tentativa de justificar a razão pela qual abandonamos o nosso projeto de vida, Jesus nos faz reler os acontecimentos à luz da Sagrada Escritura. Começando por Moisés e passando pelos profetas, Jesus explicava os discípulos todas as passagens da escritura que falavam a respeito Dele. (Lc. 24, 27)

A maneira como Jesus reinterpretou os acontecimentos à luz da Sagrada Escritura fez reascender a esperança no coração dos dois discípulos. “Não estava ardendo o nosso coração quando Jesus falava pelo caminho e nos explicava as escrituras?” ( Lc. 24, 32)

Aqui está a importância da palavra de Deus em nossa vida: seja escutando-a na liturgia da palavra na missa, seja meditando-a em casa, no carro ou no trabalho. Sem a luz da Palavra de Deus nós nos perdemos na escuridão deste mundo mergulhado na desorientação.

Quando ficamos como que ‘cegos’ incapazes de ver além da nossa decepção, incapazes de interpretar corretamente o sofrimento como oportunidade de reafirmar a nossa vocação e de renovar a nossa fidelidade à missão que abraçamos, precisamos que a palavra de Deus fale ao nosso coração e o aqueça novamente, devolvendo-nos a consciência de que existe uma razão, um sentido, uma finalidade naquilo que estamos enfrentando. Portanto, a nossa missão consiste em permanecer em Jerusalém e não fugir para Emaús.

O pedido que fazemos àquele cuja palavra tem o poder de fazer voltar a arder o nosso coração é o mesmo dos discípulos de Emaús: “Fica conosco pois já é tarde e a noite vem chegando”. (Lc 24, 29).

Fica conosco quando a noite da tristeza, do desencanto e da desesperança obscurece o nosso olhar e nos impede de enxergarmos a tua presença junto a nós, Senhor Jesus!

“Jesus entrou para ficar com eles quando se sento à mesa com eles, tomou o pão, abençoou-o, partiu-o e lhes distribuía. Nisso os olhos dos discípulos se abriram e eles reconheceram Jesus. Jesus porém desapareceu da frente deles”. (Lc 24,30-31)

O ressuscitado só foi reconhecido ao partir o pão – expressão bíblica que designa a Eucaristia -. Aquele que tanto desejamos experimentar vivo e vê-lo ressuscitado desaparece fisicamente no exato momento em que se esconde na Eucaristia.

Aquele que entrou para ficar com eles (Lc 24,29) não foi embora após partir o pão. Apenas ficou invisível para nos dizer que a Sua presença entre nós será encontrada na Eucaristia.

“Naquela mesma hora eles se levantaram e voltaram para Jerusalém”. (Lc 24,33).

Toda pessoa que se encontra com o ressuscitado na Palavra e na Eucaristia recebe forças para retomar o seu projeto de vida e recolocar os seus pés na estrada certa, na direção certa, renovando a sua fidelidade à própria vocação.

A cruz continuará a marcar com a sua sombra o nosso caminho, mas não pararemos nela porque a nossa fé e a nossa esperança estão em Deus. ( 1Pd 1,21)

Ele ressuscitou a Jesus, libertando-o das angústias da morte (At 2,24) Ele nos chamou abraçar um projeto de vida e nos sustenta na vivência diária da nossa vocação com a graça do Espírito Santo.

Oração

Senhor Jesus, enviado do pai e ungido do Espírito Santo, que fazes os corações arderem e os pés se colocarem a caminho, ajudai-nos a discernir a graça do vosso chamado e a urgência da missão.

Continuai a encantar famílias, crianças, adolescentes, jovens e adultos para que sejam capazes de sonhar e se entregar com generosidade e vigor à serviço do Reino, em Vossa Igreja e no mundo.

Despertai as novas gerações para vocação aos ministérios leigos, ao matrimônio, à vida consagrada e aos ministérios ordenados.

Maria, mãe mestra e discípula missionária, ensina-nos a ouvir o evangelho da vocação e a responder com alegria.
Amém.

LEITURAS:

Domingo, 23 de Abril de 2023
3º Domingo da Páscoa, Ano A
Leituras:
At 2,14.22-32
Sl 15(16),1-2a.5.7-8.9-10.11 (R. 11ab)
1Pd 1,17-21
Lc 24,13-35

Transcrição da mensagem publicado por Dom Nivaldo dos Santos para a liturgia de 23/4/2023.