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Dom Nivaldo dialoga com Reinados e apresenta documento de reparação histórica

A Arquidiocese de Belo Horizonte oficializou na tarde desta quinta-feira, 10, a abertura das portas de suas comunidades de fé para os Reinados Negros, também conhecidos como grupos de Congado. Em uma roda de conversa cercada de muita emoção e desabafos na Igreja Nossa Senhora do Morro, anexa ao Museu dos Quilombos e Favelas Urbanos – Muquifu, no Aglomerado Santa Lúcia, o bispo auxiliar, dom Nivaldo dos Santos Ferreira fez a leitura em primeira mão do documento nº 039/2023, que revoga um aviso publicado há 100 anos suprimindo as festas ligadas ao Congado. A conversa foi mediada pelo padre Mauro Luíz da Silva, curador do Muquifu.

Antes da leitura do documento, em um ato simbolizando a reabertura dos templos para as celebrações dos reinados, congadeiros, além das demais pessoas que estavam no local foram para o lado de fora da Igreja Nossa Senhora do Morro e as portas foram fechadas. Ao som dos tambores, dom Nivaldo reabriu as portas e, emocionados, os membros dos reinados voltaram a ocupar a igreja acompanhar a leitura do documento. 

Humanizador

Para dom Nivaldo esse é um ato humanizador e traz à tona um movimento já feito pela Igreja de respeitar as diversidades de fé e de devoção. “Hoje estamos aqui fazendo uma reparação histórica de uma maneira de convivência extremamente questionável de anos anteriores, onde brancos – homens e mulheres – se acharam no direito de pensar que tinham condições de subjugar ou então excluir vontades, emoções, costumes, religiosidades de outras matrizes”, disse.

“Eu peço a nossa senhora do Rosário que nos mantenha em harmonia. Não podemos esquecer de quem lutou. Queremos ter o direito de louvar”, disse Isabel Casimira, Rainha Conga de Minas Gerais e Rainha das Guardas de Moçambique e Congo 13 de maio.

Busca por aproximação

De acordo com a historiadora e integrante do Memorial da Arquidiocese de Belo Horizonte, Luciana Araújo, o documento centenário de fato marcou uma divisão entre o povo negro e arquidiocese, no entanto, anos depois a  própria Igreja iniciava a reparação. “O documento foi determinante para o afastamento dos contatos entre os reinados e a Igreja. Na década de 1960, no entanto, inicia-se um movimento da igreja mesmo para a inserção do povo negro ligado aos Reinados na cultura católica. Há diversos elementos que mostram que a Igreja tem buscado se retratar”, frisou.

A roda de conversa e também contou com a participação da da Antropóloga Mariana Ramos.

O documento

Assinado por dom Walmor de Oliveira Azevedo e pelo padre Carlos Roberto Cremonezzi, o documento intitulado “Reparação Histórica”, indica que essa revogação atende às propostas atuais de evangelização.

“Buscando o fortalecimento da evangelização em nossa Arquidiocese, unidos com o Projeto Proclamar a Palavra e a proteção de Nossa Senhora do Rosário, recebam as bênçãos de Deus com Saúde e Paz.”, traz parte da publicação.

Leia a íntegra do documento:

“Dom Walmor Oliveira de Azevedo, Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte, no exercício de suas funções pastorais e canônicas, pelo bem do povo de Deus, completando-se 100 anos do Aviso nº 5, datado de 10 de agosto de 1923, assinado pelo Revmº Pe. João Rodrigues de Oliveira, então, Vigário Geral que solicitava a necessidade de suprimir-se a festa conhecida pelo nome de “Reinado”, revoga o referido aviso.

Assim sendo, venho publicamente reparar o referido aviso, pois a Igreja, seguindo os ensinamentos de Jesus Cristo, é promotora da vida, respeitando a cultura e a liberdade religiosa de cada povo.

Buscando o fortalecimento da evangelização em nossa Arquidiocese, unidos com o Projeto Proclamar a Palavra e a proteção de Nossa Senhora do Rosário, recebem as bênçãos de Deus com Saúde e Paz.

Belo Horizonte, 10 de agosto de 2023.

VEAM

As mobilizações para promover o diálogo entre Reinados e a Arquidiocese foi articulada pelo Vicariato Episcopal para Ação Missionária (VEAM), instância a qual dom Nivaldo é bispo referencial.

Acompanhe fotos e vídeos da Roda de Conversa:

Conversa com Reinados Negros no Museu dos Quilombos e Favelas Urbanos