Caminhar, andar, peregrinar são experiências primordiais na vida humana. Sair de um lugar para chegar a outro, alcançar novas metas, novos lugares, novos conhecimentos são formas de crescimento espiritual que dinamiza a vida das pessoas e as atualizam no seu modo de viver e no seu ser interior. Essa dinâmica de movimentação ajuda a pessoa a perceber sua existência enquanto ser humano, pessoa de fé que se modifica com o tempo, torna-se capaz de modificar a história e o tempo em que vive. E neste modificar o mundo, se auto modifica também. Assim é o caminhar de uma pessoa de fé. Sempre em constante movimento.
Na Bíblia, todo ser humano é convidado a fazer uma opção radical pelo caminho de Deus. O projeto divino é apresentado como um caminho que exige partida, saída, um ir ao encontro do outro. Jesus mesmo é o caminho (ao Pai: Jo 14,7-9; precursor da humanidade: Hb 2,10; 6,20; é um caminho novo que convida ao seu seguimento (cf. Mc 2,4; 3,13; 10,21; Lc 9,57-62; Jo 1,43; 6,70; 15,16), o que implica em assumir as suas condições de vida e participar de seu destino.
Conhecer Jesus Cristo é a possibilidade de encontrar sentido maior para a vida. Esta deve ser a busca constante da pessoa do catequista. Chamado a viver sua vocação batismal, colocando sua vida em missão, o catequista torna-se peregrino da esperança que caminha rumo àquele que crê.
Encontramos em um momento da nossa realidade de fé que precisamos retornar a Jesus e aprender a ensinar como ele o fazia. A palavra da Igreja deve nascer do amor real às pessoas. Precisamos de palavras verdadeiras, mais livre da sedução do poder e mais cheia da força do Espírito. A palavra tem força de criação. Não se pode esquecer que Deus cria o universo e tudo o que nele existe pela palavra. Assim, todo ato humano deve ser revestido da palavra que confirma nossas ações.
O uso consciente da Palavra é que faz de nós, seres humanos, sujeitos de relações. Nesse sentido, uma palavra acolhedora, atenta à realidade da pessoa, à sua individualidade, ao seu modo de vida, sua espiritualidade interior, produz uma relação de respeito à pessoa e resgate de sua dignidade. Todos nós somos portadores da Luz Divina. Fazê-la brilhar é tarefa de cada um.
O primeiro passo para que essa relação se torne eficaz é se colocar no seguimento dos passos de Jesus e seguir seus ensinamentos. Procurar conhecer um pouco da cultura do seu tempo é uma melhor forma de compreendê-lo. Jesus cresceu na Galileia. Como era a realidade econômica, social e política daquele tempo, naquela região?
Muitos estudiosos do nosso tempo fizeram releituras daquele contexto trazendo para nossa realidade o conhecimento do modo de vida daquele povo.
Para conhecer um pouco sobre a estrutura econômica, política e social do tempo de Jesus, entramos um pouco sobre a forma de governo do Império Romano. Formado de muitas pequenas nações, para manter o domínio colonial, o imperador contava com a ajuda da aristocracia nativa. Estas, colocando-se às suas ordens, recebiam recompensas como grandes doações de terras e altos cargos no governo, em troca dos altos impostos que cobravam da população. Esta, que trabalhava na lavoura e em ocupações a ela relacionadas, representava 90%. A classe dominante simplesmente usava o domínio da terra para explorar os camponeses de todas as maneiras possíveis. Quando acontecia alguma melhoria de infraestrutura, estas eram sempre em benefícios da elite.
A aristocracia, graças à politica interna, tinha como intenção enfraquecer por completo os camponeses, para que a classe dominante ficasse com toda a riqueza gerada pela região. O sistema de distribuição de renda era perverso, embora aos olhos do sistema político e tributário era considerado normal nos impérios antigos e os camponeses eram totalmente impotentes para fazer algo contra.
O sistema religioso obrigava a todos participarem da religião pública do Estado. Os sacerdotes eram considerados os mestres e funcionários oficiais da religião. Para os camponeses, esta era a forma que a nação tinha de agradar aos deuses. Acreditavam que, com suas orações e ritos, os deuses podiam manter as terras férteis para a produção e assim eles teriam sua sobrevivência.
Olhando para essa realidade, ela nos ajuda a compreender várias atitudes de Jesus naquele tempo, pois o povo vivia em uma sociedade burocrática que não se preocupava com o bem-estar do indivíduo e com camponeses que não tinham praticamente nada para repartir com os pobres. Além disso, eles eram impedidos de se envolverem com a comunidade por ser considerados ‘impuros’ perante a lei estabelecida. O entendimento de Jesus, segundo o que ele aprendeu na ‘Sagrada Escritura’ era o oposto desse exclusivismo.
Para Jesus, a compaixão divina era o ensinamento central das Escrituras e considerava impuro só aquilo que ia contra a vontade de Deus. Ele conhecia as leis bíblicas. Compreendia a Torá como lei e instrução para a vida do povo e as interpretava para sua realidade. Defendia os preceitos estabelecidos na lei sobre a remissão das dívidas todo sétimo ano, ou ano sabático, e, no ano do jubileu, ou seja, o quinquagésimo ano que, segundo Lv 25,10.13-17.23-28, deveria ocorrer a devolução da terra que uma família perdera, leis que não eram cumpridas pela aristocracia.
Como está nossa realidade atual? Como está nossos governantes? Será que a norma de vida mudou, ou continua semelhante ao tempo de Jesus? Como estamos vivendo o nosso ano jubilar? Como está a nossa prática do jubileu catequético? Estas e outras realidades difíceis constituem conteúdo para nossas catequeses.
Nossas catequistas, chamadas a ser guardiões da memória da Palavra de Deus e acompanhadoras personalizadas de seus catequizandos, colocam-se disponíveis para o anúncio de Jesus. Ele é o centro da nossa evangelização.
Jesus vem ensinar a partilhar, nos chama ao cuidado e à atenção com os mais necessitados e não a praticar o acúmulo de bens que leva à pobreza do outro, à exclusão. Jesus nos ensina a acolher e estar próximo ao outro; a partilhar, a levar adiante a sua Palavra, a dar testemunho de vida na vida da comunidade.
Esse chamado é para todos os batizados. A pessoa do catequista é chamada a ir além; a desenvolver sua maturidade de fé no caminho direcionado a Cristo, considerado a Verdade, o Caminho e a Vida, ou seja, participação progressiva na vida do Cristo Ressuscitado e a identificação com Ele.
Neste mês das vocações, quero parabenizar todos os nossos catequistas que conosco caminha levando o anúncio da Palavra, Jesus Cristo Ressuscitado, a todas as nossas crianças, jovens, adultos e idosos; a todas as pessoas que buscam viver em Cristo. Que nossos catequistas sejam Luz de Cristo que iluminam os caminhos daqueles que querem esperançar, realizar-se na pessoa do Cristo.
O que Jesus diz por palavras e ações fala a verdade a respeito de Deus e do plano de Deus para nós. Conhecendo os ensinamentos de Jesus estamos a caminhar para realizar a vontade do Pai e promover a presença do Reino no meio de nós.
Neuza Silveira de Souza.
Coordenadora do Secretariado Arquidiocesano Bíblico-catequético de Belo Horizonte.